Nós, do Coletivo Perifatividade, coletivo cultural que atua desde 2010 nos diversos bairros da região “Fundão do Ipiranga” faz esta nota pública para relato e reflexão da atuação policial que ocorreu no dia 01/03/2015, porém que vem ocorrendo com certa continuidade aos finais de semana.
No domingo passado, primeiro dia de março deste ano, o Coletivo Perifatividade participa juntamente com o grupo de rap Pânico Brutal, o Projeto Crack Zero e diversos militantes culturais e comunidade, do evento “Pânico nas Ruas”, ocorrido na quadra da Vila da Paz. Evento bonito e importantíssimo para a cultura e região, trouxe mulheres de fibra para debaterem sobre o machismo, cantarem e apresentarem seus trabalhos artísticos. Um evento do qual temos orgulho em sermos parceiros.
Na última apresentação da noite, algumas pessoas que organizavam o mesmo souberam de uma ação para a dispersão de um baile funk duas ruas para cima de onde acontecia nosso evento, e para isto, policiais estariam munidos de balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Um integrante de nosso coletivo se dirige ao bar em frente à quadra para usar o banheiro, e quando sai deste, vê policiais agredindo dois meninos que, para fugir dos mesmos, correram e entraram neste bar. O integrante questiona a ação do policial, e este o agride com cassetetes na cabeça, ombros, mãos, costas e quadris por diversas vezes.
Os policiais então se dirigem à quadra para “conversar” (conversa em tom arbitrário e agressivo) com os organizadores do evento. Sendo questionados pela agressão gratuita e sem motivação alguma, se enfurecem, e ao ouvirem a frase “Tem que tomar rajada” de um indivíduo, correm atrás de outro, pois ele tem o fenótipo padrão para repressão policial (jovem negro, num evento na periferia).
O integrante, ao dar entrada no hospital, para ser examinado e medicado pelas escoriações e hematomas sofridos, é informado pela atendente do mesmo que só naquele período era a quarta entrada no hospital por agressões policiais. Nosso integrante não teve nada mais grave e passa bem. Mas – não é de hoje – sabemos que este não é o destino de muitos jovens na periferia de São Paulo e do Brasil, devido à abuso de autoridade, pré conceitos, e a política higienista que este governo decreta, de forma cada vez mais contundente.
Devemos lembrar que o mesmo baile funk que acontece no Parque Bristol, também acontece na Vila Madalena, com as dores e as delícias de um baile: diversão, música, bebidas e drogas. Mas o resultado na Vila Madalena e no Parque Bristol é o mesmo? As abordagens policiais são as mesmas? A visão do jovem frequentador do baile funk do Parque Bristol e da Vila Madalena é a mesma pela polícia? Em qual destes dois bairros, o véu do racismo, da política higienista e genocida sobressai nos jovens, em especial os negros?
O que aconteceu com um dos nossos nos revolta, e nos deixa indignado sim. Somos trabalhadores, educadores culturais e sociais, militantes por um bairro mais consciente, com mais educação, cultura, saúde e principalmente empoderado da luta pelos seus direitos. E mesmo que não fôssemos. Ninguém merece ser agredido e humilhado na rua de sua casa, de seu trabalho cultural. Mas o que mais nos toca é que esta violência é com vários e várias. É todo dia, é cotidiana, mas não pode ser só mais um fato do cotidiano.
Não podemos mais aceitar a violência gratuita como algo natural. Deixamos esta nota em aberto para coletivos e pessoas que quiserem assinar.